Você que me acompanha há algum tempo sabe que eu sou contra usarmos aqueeeeeeles alimentos que todo mundo usa nas nossas avaliações e terapias junto aos pacientes disfágicos, não é mesmo?
A boa e velha papinha de frutas, o iogurte, o gelo com limão, a sopa de legumes toda batida… A menos que algum deles seja o alimento preferido do seu paciente (o que eu tenho minhas dúvidas que seja rs), nenhum desses alimentos traz memórias afetivas e resgata experiências cognitivas relacionadas à deglutição.
Muitas vezes, é porque você usa esses alimentos que aquele paciente pouco responsivo parece que não te responde nas sessões, ou que aquele paciente não se motiva com o treino fonoaudiológica e fica estagnado, sem evolução.
Mas aí, você me pergunta…
“Como saber escolher o alimento certo para cada paciente?”
Eu te digo que existem algumas questões a serem consideradas.
Vem comigo!
Ative seu lado investigador…
Faça perguntas ao paciente/familiares sobre quais eram as preferências alimentares antes do quadro clínico atual.
Eu já tive paciente que sempre começou o dia com café preto sem açúcar. Também já tive paciente que nunca suportou chocolate. Ou paciente que amava uma boa macarronada, que bebia vinho todo dia no jantar, que comia gema de ovo batida com açúcar.
Esses são só exemplos de como cada caso é único!
Eu te oriento a fazer uma lista desses alimentos e ir ajustando com a cozinha do hospital ou com os familiares para ter sempre algo dessa lista à disposição para o seu treino.
Leve em consideração as características da disfagia do seu paciente…
Mas não deixe que ela limite a sua atuação!
Vamos supor que o seu paciente goste de abacaxi. Mas da fruta, não do suco.
E ele está de SNE no momento da avaliação.
Não dá para oferecer logo de cara um pedaço de abacaxi, certo?
Errado!
Dá sim! Você pode colocar em uma gaze ou um chupetão de silicone para que ele possa manipular o alimento com segurança, ou seja, ele vai “mastigar” o pedaço de abacaxi mas só vai engolir o sumo com a saliva.
Se nesse caso, você se deixasse levar pelas “impossibilidades”, você teria levado o suco e sua avaliação teria ido por água abaixo.
PS: vou abrir um parênteses aqui para os pacientes diabéticos que, na sua maioria, AMAM um docinho e a gente, com medo de descompensar a glicemia do paciente, insiste em negar esse prazer aos nossos pacientes!
Considere sim: a quantidade do alimento ofertado e que há inúmeras possibilidades de alimentos com menor teor de açúcar que podem ser utilizados!
E não se esqueça…
… de estimular os 5 sentidos junto ao alimento selecionado!
Voltem ao exemplo do meu paciente que tomava vinho no jantar. Deixa eu te mostrar como estimular os 5 sentidos com esse alimento:
Primeiro de tudo, eu mostrava a garrafa do vinho e colocava nas mãos dele para ele sentir a garrafa de vidro, a rolha, até ajudava ele a tirar a rolha e ouvir aquele “ploc” que faz quando abrimos.
Em seguida, eu servia um pouquinho em uma taça e novamente, colocava a taça nas mãos dele. Ele explorava a taça e eu o ajudava a sentir o aroma do vinho. Junto com tudo isso, eu ia fazendo comentários sobre a cor do vinho, se era seco ou doce, falava da safra…
Por último, eu pegava uma colher, passava no vinho e tocava os lábios dele com o vinho. Zero volume, só o paladar. Aqui a deglutição acontecia, mas não vou negar que muitas vezes, no ouvir o “ploc” da rolha ou cheirar o vinho, ele deglutia saliva também.
A escolha do alimento precisa ser personalizada porque cada paciente é único nas suas escolhas e preferências.
Seja você também um fonoaudiólogo único que faz essas estratégias infalíveis para reabilitar o seu paciente, compartilhe este artigo com um colega para que ele também passe a personalizar os atendimentos!