Ao longo dos meus anos de atuação junto aos pacientes disfágicos, uma das maiores questões discutidas não só na clínica, mas também no meio acadêmico, é a classificação da gravidade da disfagia que o paciente apresenta.
Eu acredito que é preciso que a comunidade fonoaudiológica “fale a mesma língua” nesse aspecto, de forma que quando você receber um relatório de uma colega onde está escrito “Disfagia de grau leve” ou “Disfagia de grau severo”, você saiba o que significa antes mesmo de ver o paciente na avaliação.
Pensando nisso, vou colocar aqui o que você precisa considerar ao classificar a severidade da disfagia de um paciente.
Disfagia Grave
Trata-se de pacientes que apresentam, na avaliação clínica:
- retenção severa de alimento na região laringofaríngea, com impossibilidade de clareamento e grande risco de broncoaspiração;
- perda ou retenção severa do bolo alimentar em cavidade oral, com impossibilidade de clareamento e ausência completa do disparo do reflexo de deglutição;
- presença de aspiração silente.
Disfagia Moderada-Grave
Trata-se de pacientes que apresentam, na avaliação clínica:
- retenção alimentar importante na região laringofaríngea, com dificuldade de clareamento, necessitando de várias intervenções por parte do fonoaudiólogo;
- perda ou retenção severa do bolo alimentar, com dificuldade do clareamento e atraso importante no disparo do reflexo de deglutição, necessitando de várias intervenções por parte do fonoaudiólogo;
- presença de aspiração de duas ou mais consistências alimentares com presença de tosse voluntária fraca, ou penetração de uma ou mais consistências com ausência de tosse voluntária.
Disfagia Moderada
Trata-se de pacientes que apresentam, na avaliação clínica:
- retenção alimentar moderada na região laringofaríngea, apresentando clareamento não espontâneo (sob solicitação do fonoaudiólogo);
- retenção alimentar moderada em cavidade oral, apresentando clareamento não espontâneo ou disparo do reflexo de deglutição somente sob solicitação/intervenção do fonoaudiólogo;
- penetração do alimento ao nível das pregas vocais sem tosse voluntária ou aspiração com tosse voluntária pouco eficaz/eficiente.
Disfagia Leve-Moderada
Trata-se de pacientes que apresentam, na avaliação clínica:
- retenção de alimento em região laringofaríngea, apresentando clareamento não espontâneo (sob solicitação do fonoaudiólogo);
- retenção alimentar em cavidade oral, apresentando clareamento não espontâneo ou disparo do reflexo de deglutição somente sob solicitação/intervenção do fonoaudiólogo;
- aspiração de uma consistência de alimento ou penetração ao nível das pregas vocais com presença de tosse voluntária eficiente/eficaz
Disfagia Leve
Trata-se de pacientes que apresentam, na avaliação clínica:
- aspiração apenas com líquidos ralos, mas com reflexo forte de tosse presente para clareamento completo do material aspirado;
- penetração do alimento ao nível das pregas vocais de uma ou mais consistências de alimentos, mas clareadas espontânea e completamente;
- retenção de pouca quantidade de alimento em região laringofaríngea, mas clareada espontaneamente;
- redução da mastigação e /ou retenção do bolo alimentar em cavidade oral, mas com disparo do reflexo de deglutição de forma voluntária.
Deglutição funcional
Trata-se de pacientes que apresentam, na avaliação clínica:
- paciente com alterações leves, como atraso mínimo no disparo do reflexo de deglutição ou pequena quantidade de estase em região faríngea, mas com total capacidade de compensar as alterações, sem presença de sinais clínicos sugestivos de penetração e/ou aspiração laringotraqueal.
Lembrete importante!
A classificação da gravidade da disfagia apresentada pelo seu paciente NÃO define o desempenho dele de forma exclusiva.
Dois pacientes classificados como “moderados” podem performar de formas distintas diante da neurofisiologia da deglutição e por isso, a avaliação clínica fonoaudiológica com olhar individualizado é o ponto chave para um processo de reabilitação de sucesso!
E aí, ficou mais fácil avaliar o nível de disfagia do seu paciente?
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