Anatomofisiologia das Principais Doenças de Base que Levam à Disfagia

A disfagia é caracterizada pela dificuldade ou incapacidade de engolir alimentos, líquidos ou saliva. Essa condição é frequentemente associada a doenças de base que alteram a anatomia ou a fisiologia do sistema de deglutição. Neste artigo, abordaremos as principais doenças que levam à disfagia, analisando sua anatomofisiologia e como essas alterações comprometem o ato de engolir.

1. Anatomofisiologia da Deglutição Normal

A deglutição é um processo complexo que envolve a coordenação de músculos e nervos para transportar alimentos da boca ao estômago, dividindo-se em três fases principais.

1.1. Fase Oral

  • Voluntária, ocorre na boca.
  • Os alimentos são mastigados, misturados com saliva e formam o bolo alimentar.
  • A língua empurra o bolo em direção à faringe.

1.2. Fase Faríngea

  • Involuntária, ocorre na faringe.
  • O bolo alimentar atravessa a faringe, enquanto a epiglote fecha a entrada da traqueia para evitar aspiração.

1.3. Fase Esofágica

  • Involuntária, ocorre no esôfago.
  • O bolo é transportado ao estômago através de movimentos peristálticos.

Qualquer interrupção nesse processo pode levar à disfagia, especialmente em condições patológicas que afetam as estruturas envolvidas.

2. Doenças Neurológicas

2.1. Acidente Vascular Cerebral (AVC)

O AVC é uma das causas mais comuns de disfagia, ocorrendo devido à interrupção do fluxo sanguíneo no cérebro.

  • Anatomofisiologia: Lesões no córtex motor ou no tronco cerebral prejudicam os nervos cranianos envolvidos na deglutição, como o nervo vago (X) e o glossofaríngeo (IX).
  • Impacto na Deglutição: Redução da força muscular e descoordenação, levando a dificuldades em todas as fases da deglutição.

2.2. Doença de Parkinson

Essa doença degenerativa afeta os gânglios basais, responsáveis pelo controle motor.

  • Anatomofisiologia: A redução de dopamina prejudica o controle muscular fino.
  • Impacto na Deglutição: Rigidez e lentidão dos movimentos da língua e da faringe, comprometendo principalmente a fase faríngea.

2.3. Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)

A ELA é uma doença neurodegenerativa que afeta os neurônios motores superiores e inferiores.

  • Anatomofisiologia: Degeneração dos neurônios que controlam os músculos da deglutição.
  • Impacto na Deglutição: Fraqueza muscular progressiva, levando à disfagia severa e risco elevado de aspiração.

3. Doenças Musculares

3.1. Miastenia Gravis

A miastenia gravis é uma doença autoimune que afeta a comunicação entre nervos e músculos.

  • Anatomofisiologia: Os anticorpos atacam os receptores de acetilcolina, reduzindo a contração muscular.
  • Impacto na Deglutição: Fadiga muscular nas fases oral e faríngea, dificultando a formação e o transporte do bolo alimentar.

3.2. Distrofias Musculares

Essas condições genéticas causam degeneração progressiva dos músculos.

  • Anatomofisiologia: Falta de proteínas essenciais, como a distrofina, leva à fraqueza muscular.
  • Impacto na Deglutição: Fraqueza nos músculos da língua, faringe e esôfago, prejudicando todas as fases da deglutição.

4. Doenças Estruturais

4.1. Câncer de Cabeça e Pescoço

Tumores nessas regiões podem causar disfagia por obstrução ou comprometimento funcional.

  • Anatomofisiologia: O crescimento tumoral afeta a anatomia normal da boca, faringe ou esôfago.
  • Impacto na Deglutição: Obstrução física e redução da mobilidade muscular, especialmente após cirurgias ou radioterapia.

4.2. Estenose Esofágica

A estenose é um estreitamento anormal do esôfago.

  • Anatomofisiologia: Pode ocorrer por inflamação crônica (esofagite), refluxo gastroesofágico ou formação de cicatrizes.
  • Impacto na Deglutição: Dificuldade em transportar alimentos sólidos na fase esofágica.

5. Doenças Degenerativas

5.1. Demência

Condições como Alzheimer e demência frontotemporal frequentemente levam à disfagia.

  • Anatomofisiologia: A neurodegeneração prejudica as áreas cerebrais responsáveis pelo controle motor e sensorial da deglutição.
  • Impacto na Deglutição: Dificuldade em iniciar a deglutição e riscos de aspiração devido à descoordenação.

5.2. Esclerose Múltipla

Essa doença autoimune afeta o sistema nervoso central, causando inflamação e lesões na mielina.

  • Anatomofisiologia: Lesões no tronco cerebral e nos nervos cranianos comprometem o controle da deglutição.
  • Impacto na Deglutição: Descoordenação motora e dificuldade em todas as fases da deglutição.

6. Doenças Gastrointestinais

6.1. Refluxo Gastroesofágico (RGE)

O refluxo ácido crônico pode levar a complicações como esofagite e estenose esofágica.

  • Anatomofisiologia: O ácido gástrico danifica o epitélio do esôfago, causando inflamação e cicatrização.
  • Impacto na Deglutição: Sensação de alimentos presos e dor ao engolir.

6.2. Acalasia

A acalasia é um distúrbio raro que afeta o esfíncter esofágico inferior.

  • Anatomofisiologia: Falha na abertura do esfíncter devido à degeneração dos nervos mioentéricos.
  • Impacto na Deglutição: Dificuldade em transportar o bolo alimentar para o estômago.

7. Complicações Associadas à Disfagia

Independentemente da doença de base, a disfagia pode levar a complicações graves:

  • Aspiração Pulmonar: Entrada de alimentos ou líquidos nos pulmões, causando pneumonia.
  • Desnutrição: Redução na ingestão calórica e de nutrientes essenciais.
  • Desidratação: Dificuldade em consumir líquidos suficientes.

O manejo adequado depende de uma compreensão detalhada da anatomofisiologia da doença subjacente.

Conclusão

A disfagia é um sintoma multifatorial que pode resultar de uma ampla gama de doenças de base. Cada condição afeta de forma única a anatomia e a fisiologia do sistema de deglutição, exigindo uma abordagem personalizada para avaliação e tratamento.

Compreender as alterações anatomofisiológicas é essencial para profissionais da saúde oferecerem o melhor cuidado possível. Para aqueles que desejam se especializar na área, a profissional Dra Paola Pucci oferece cursos dedicados ao manejo de disfagia, capacitando especialistas para transformar o cuidado desses pacientes.

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