6 Cuidados essenciais para atender pacientes traqueostomizados

Quem aqui já fugiu de um atendimento em que o paciente estava traqueostomizado diz “EU”! rs

Brincadeiras à parte, o traqueostomizado representa uma demanda importante do fonoaudiólogo que atende disfagia e também uma das maiores inseguranças no atendimento.

Pensando nisso, eu vim trazer 6 cuidados sobre a avaliação e o atendimento do paciente traqueostomizado que vão ajudar você a atender com segurança e assertividade.

Mas antes, uma revisão sobre o básico da traqueotomia!

A traquéia é um tubo composto por cartilagens, localizada entre a laringe e os brônquios, que tem como função levar o ar inspirado até os pulmões.

A traqueostomia é um procedimento cirúrgico no qual ocorre uma abertura na traquéia, pela qual é colocado uma cânula com o objetivo de manter o paciente respirando.

Existem diferentes tipos de cânulas de traqueostomia e a indicação é sempre médica. A presença da cânula de traqueostomia traz impactos não só à neurofisiologia da respiração, mas também da deglutição e da fonação.

O que avaliar no paciente traqueostomizado?

Sei que muitos de vocês responderam mentalmente QUARTETO FANTÁSTICO e eu me alegro com essa resposta, porque ela está mais que certa! 

Mas eu quero destrinchar um pouco mais o processo junto ao paciente traqueostomizado.

1. Avaliação da parte clínica

O que eu quero dizer com isso?

Que você vai investigar o histórico clínico desse paciente: doença de base, doenças prévias, medicações em uso, se está fazendo uso de ventilação mecânica e em quais momentos, como desempenha na fisioterapia respiratória, qual o tipo de cânula em uso…

Todos esses questionamentos te darão informações importantes para auxiliar seu raciocínio clínico.

2. Avaliação da secreção

O próximo passo é você olhar para as características da secreção desse paciente. 

É importante observar: cor, quantidade, aspecto, número de aspirações diárias.

Pode ser uma secreção esverdeada, espessa, com cheiro de infecção, bem característica de quadro infeccioso. Mas pode ser também uma secreção transparente, fluida, sem odor – com cara de saliva e que te indicará que esse paciente não está deglutindo a saliva de forma eficiente.

3. Avaliação do QUARTETO FANTÁSTICO

Agora sim vamos olhar para o nosso quarteto: cognição/linguagem, fala, mímica facial e deglutição.

A dica de ouro aqui é que você avalie a deglutição de saliva de duas formas: espontaneamente e sob estímulo. 

Há diferença entre as duas situações? 

Em qual delas o paciente performa melhor? 

Quais as alterações observadas tanto na deglutição espontânea, quanto na sob estímulo?

4. Depois de tudo isso, vamos ao cuff!

O cuff é um balonete interno que, quando insuflado (ou seja, cheio de ar) adquire o formato da traqueia e bloqueia a passagem de ar para a via aérea superior. É ele que também veda as vias aéreas inferiores, evitando episódios de broncoaspiração.

Você, como fonoaudiólogo, vai precisar manusear o cuff pois o treino acontece com muito mais eficiência quando desinsuflamos o cuff e favorecemos o restabelecimento do fluxo aéreo para as vias aéreas superiores, trazendo ganhos como melhora da sensibilidade laríngea e da pressão subglótica.

Nem todo paciente tem indicação imediata para desinsuflar o cuff – ele pode não ter um bom manejo das secreções e estar em risco aumentado de broncoaspiração, ou muito dependente da ventilação mecânica. Por isso, é preciso entender junto à equipe multi quais são as possibilidades em cada caso.

5. E o que priorizar: comer ou decanular?

A maioria dos pacientes traqueostomizados também se encontra fazendo uso de sonda para alimentação. E a dúvida surge: o que trabalhar primeiro?

A resposta é que ambas as demandas precisam ser trabalhadas junto a esse paciente. O treino da melhora da deglutição permite um ambiente mais seguro para desinsuflar o cuff, e o treino para decanular permite melhora no complexo hiolaríngeo, melhorando a performance da deglutição.

6. E quando decanular?

Vou começar te contando que não existe processo de decanulação sem uma parceria com o fisioterapeuta respiratório e com o médico do caso, ok?

Mas o que eu quero deixar aqui são os critérios que precisam ser respeitados para promover uma decanulação segura.

É preciso considerar: o desmame da ventilação mecânica e o restabelecimento do fluxo respiratório confortável, bom manejo das secreções, presença do reflexo de tosse eficiente, deglutição sem risco de broncoaspiração, suportar o cuff desinsuflado e a oclusão da traqueostomia de forma confortável por 24h ou mais.

Estando todos os critérios favoráveis, é uma decisão da equipe decanular!

O ponto chave do atendimento ao paciente traqueostomizado é, sem sombra de dúvidas, o atendimento em equipe!

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